segunda-feira, 10 de maio de 2010

Biografia de Lasar Segall por Giulia nº10

Lasar Segall nasce a 21 de julho de 1891, na comunidade judaica de Vilna, capital da Lituânia, na época sob domínio da Rússia czarista. É o sexto filho de Esther Ghodes Glaser Segall e Abel Segall. Os oito filhos do casal Segall eram, por ordem de nascimento: Oscar, Jacob, Rebeca, Luba, Manja, Lasar, Lisa e Grisha. Seu pai era escriba da Tora, lei judaica contida nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, cujo texto, manuscrito em pergaminho, é utilizado em cerimônias religiosas nas sinagogas. Em 1905 , em Vilna, frequenta a Escola de Desenho, onde é estimulado a viajar para seguir seus estudos, pelo pintor Antokolski, sobrinho do escultor Mark Matveevich Antokoski, também judeu de Vilna, que passou grande parte da vida em Paris. Em 1906, aos 15 anos de idade vai para Berlim, onde se fixa, para continuar a formação artística. Freqüenta a Escola de Artes Aplicadas. Em seguida ingressa na Academia Imperial de Belas Artes de Berlim. Recebe Bolsa de Estudo. Em 1910 ele deixa a Academia de Berlim. No final do ano transfere-se para Dresden, onde freqüenta a Academia de Belas Artes, como aluno-mestre, com ateliê próprio e maior liberdade de criação. No ano seguinte, visita novamente a família em Vilna. Em 1912, Vai à Holanda. Em Amsterdã desenha tipos humanos no asilo de velhos. No final do ano, passa pelo porto de Hamburgo a caminho do Brasil, onde já residiam seus irmãos Oscar, Jacob e Luba. Em março de 1913, faz exposição individual num salão alugado à Rua São Bento, 85, São Paulo, com apoio do senador José de Freitas Valle. Mostra trabalhos de transição entre o impressionismo e um estilo pessoal que começava a se afirmar. Em maio, dá aulas de desenho à jovem Jenny Klabin. Em junho, exposição individual no Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, que adquire sua pintura Cabeça de menina russa (1908). No final do ano, regressa à Europa, deixando várias obras em coleções brasileiras, entre as quais a de Freitas Valle, na qual ficaram três trabalhos, inclusive o Auto-retrato I (c. 1911). Visita Paris por três semanas, fazendo longas visitas ao Museu do Louvre. De volta à Alemanha, conhece Margarete Quack que, finda a Primeira Guerra, se tornaria sua esposa. No início de 1916 recebe autorização para voltar a Dresden. Vive algum tempo na residência de Victor Rubin, patrono de vários artistas dessa cidade. No final desse ano, retorna à cidade natal, encontrando-a destruída pela guerra. Da forte impressão que lhe causa a cidade, com seus seres miseráveis espalhados pelas ruas, produz uma série de desenhos, litografias e gravuras em metal, em que registra a data “1917”.Permanece de agosto a novembro de 1918 em Vilna por ter contraído a gripe espanhola. Volta a Dresden. Publica, com prefácio do crítico Will Grohmann, o álbum 5 Litographien nach der Sanften (Cinco litografias sobre Uma doce criatura), inspirado no conto Krotkaya (Uma doce criatura), de Dostoievski. Em 1919, funda com os artistas Otto Dix, Conrad Felixmüller, Will Heckrott, Otto Lange, Constantin von Mitschke-Collande, Peter August Böckstiegel, Otto Schubert, Gela Forster e o arquiteto e escritor Hugo Zehder, a Dresdner Sezession - Gruppe 1919 (Secessão de Dresden, Grupo 1919). Primeira exposição da Secessão de Dresden - Grupo 1919, na Galeria Emil Richter, Dresden (abril/maio). Em junho, nova mostra da Secessão de Dresden - Grupo 1919, com convidados de outras cidades (George Grosz, Schmidt-Rottluff e Kurt Schwitters, entre outros). É um dos 141 intelectuais que responde ao questionário organizado pelo Arbeitsrat für Kunst (Conselho dos Trabalhadores da Arte), sobre o papel do artista na sociedade e as relações da arte com o Estado. Estadias na ilha de Hiddensee, no mar Báltico, ao norte da Alemanha, resultam na produção de uma série de paisagens.
Em 1920 uma grande exposição individual de Segall no Folkwang Museum, em Hagen, importante museu no oeste da Alemanha, inaugurada com conferência de Will Grohmann. Entre outros trabalhos, estão presentes nessa mostra as telas Kaddish (1917), Morte (1917), Gestante (1919), Meus avós (em sua primeira versão; a tela foi depois retrabalhada e datada 1921) e Auto-retrato (1919). Recebe a visita do escritor russo Ivan Goll. Museu de Essen adquire a pintura Dois seres (1919), o Museu Folkwang, em Hagen, a pintura "A viúva" (1919) e o Museu Municipal de Dresden a pintura Eternos caminhantes (1919).
Publica com Otto Dix, Will Heckrott, Otto Lange, Constantin von Mitschke-Collande e Eugen Hoffmann, o álbum Secessão de Dresden - Grupo 1919, contendo duas gravuras de cada artista. Colabora, em Dresden, para a fundação da Escola de Dança de Mary Wigman, a mais importante figura da dança expressionista alemã.
Conhece Paul Klee. Ilustra o livro de Theodor Däubler, da coleção Jüdische Bücherei (Berlim, Ed. Fritz Gurlitt de Arte e Cultura Judaica). Exposição individual na Galeria Schames de Frankfurt. Em 1921, participa da Exposição de Arte Russa, na Galeria von Garvens, de Hannover (março/abril). Participa da organização da exposição de arte moderna italiana Valori Plastici, que abre em outubro desse ano na sede do Kunstsalon Emil Richter, em Dresden. Conhece o pintor Wassily Kandinsky, que chegara da Rússia, tornando-se seu amigo. Convive ainda com os artistas El Lissitzki, Naum Gabo e Alexander Archipenko. Publica o álbum Bubu (8 litografias), inspirado no romance Bubu de Montparnasse de Charles Louis Philippe, com prefácio de Paul Ferdinand Schmidt, diretor do Museu Municipal de Dresden. Segall e Margarete mudam-se para Berlim. Em 1922, ele participa da Internationale Kunstausstellung (Exposição Internacional de Arte) de Düsseldorf (maio/julho). Representa a Secessão de Dresden no Congresso da União dos Artistas Internacionais Avançados, simultâneo a essa exposição. Em sua autobiografia, Segall diz que foi nessa ocasião que conheceu os pintores Max Ernst, Yankel Adler, Arthur Kaufmann e Gert Wollheim. Publica o álbum Recordação de Vilna em 1917 (5 pontas-secas), com prefácio de Paul Ferdinand Schmidt. Em abril de 1923, exposição individual de gravuras na Galeria Fischer, de Frankfurt e no Gabinete de Estampas do Museu de Lepzig. Ilustra o livroMaasse-Bichl (Pequeno livro de estórias), de David Bergelsohn, com 17 gravuras (Ed. Wostock, Berlim). Em novembro, Segall e Margarete vêm de mudança para o Brasil. Em janeiro de 1924, depois de passar pelo Rio de Janeiro, desembarca em Santos. Reside em São Paulo, à rua Oscar Porto, 31. Logo após sua chegada, recebe em sua casa, no dia 8 de fevereiro, a visita de simpatizantes do Modernismo, entre os quais Olívia Guedes Penteado. Em março, exposição individual à Rua Álvares Penteado, 24, São Paulo. Mostra obras produzidas na Alemanha. Ele se separa de Margarete, que retorna a Berlim.Em novembro, executa trabalhos de decoração para o Baile Futurista, no Automóvel Club de São Paulo. Faz a conferência “Sobre Arte”, na Vila Kyrial, residência do senador José de Freitas Valle, importante ponto de reunião de artistas e intelectuais.
Ele, em 1925 decora com pinturas murais o Pavilhão de Arte Moderna de Olívia Guedes Penteado, localizado no jardim de sua residência, à Rua Conselheiro Nébias, onde se reuniam os modernistas. Mário de Andrade analisa esse trabalho: “Segall se revelou na decoração desse salão um idealista excelente. Um idealista de felicidade. E me parece que foi esse idealismo que lhe permitiu chegar nos quadros atuais a um conceito mais realista de realidade, abandonando aquele trágico mortificante e incessante que lhe caracteriza toda a obra anterior à fase brasileira”.
Pinta a tela Paisagem brasileira (1925). Em junho, casa-se com Jenny Klabin. O casal passa a lua-de-mel no Rio de Janeiro. Em dezembro, Segall e Jenny viajam para a Europa. Em 1926, expõe obras produzidas no Brasil entre 1924 e 1926, na Galeria Neumann-Nierendorf, de Berlim e na Galeria Neue Kunst Fides, de Dresden. Em abril, nasce Mauricio, seu primeiro filho, em Berlim. Em outubro, a família retorna ao Brasil. Em fevereiro de 1927, morre em São Paulo seu pai Abel Segall. Naturaliza-se brasileiro. Em dezembro, exposição individual à Rua Barão de Itapetininga, 50, São Paulo. Em julho de 1928, exposição individual no Palace Hotel, Rio de Janeiro. Nessas duas exposições, de 1927 em São Paulo e de 1928 no Rio de Janeiro, Segall mostra os trabalhos feitos no Brasil entre 1924 e 1928, produção que ficou conhecida – conforme a expressão de Mário de Andrade – como “fase brasileira”. Essa nova pintura exibia forte influência do país, tanto na escolha dos temas – figuras de negros, plantas tropicais, favelas – quanto no uso de cores mais vivas e iluminadas. Em novembro, a Pinacoteca do Estado de São Paulo adquire a pinturaBananal (1927). Em dezembro, volta à Europa, residindo por quatro anos em Paris, onde começa a esculpir.
Fevereiro de 1930 foi a data de nascimento do seu filho Oscar, em Paris. Em abril de 1932, Segall retorna ao Brasil, fixando residência em São Paulo, à Rua Afonso Celso. Ao lado da casa, projeto de Gregori Warchavchik, seu concunhado, constrói o ateliê, onde planeja instalar a “Escola de Arte Lasar Segall”, que não chega a se concretizar. Projeta móveis e tapetes para a decoração da casa, que mostram sintonia com as formas simplificadas propostas pela Bauhaus. É um dos sócios fundadores da SPAM (Sociedade pró Arte Moderna), cuja criação é comemorada em casa da bailarina Chinita Ullman, com a festa “São Silvestre em Farrapos”, decorada com painéis pintados pelo artista. Em fevereiro de 1933, realiza o projeto e a decoração do baile “Carnaval na Cidade de SPAM”, nos salões do Trocadero, São Paulo. Participa da Primeira Exposição de Arte Moderna da SPAM, São Paulo (abril/maio). Em agosto, exposição individual de aquarelas e águas-fortes, na Pró-Arte, Rio de Janeiro. Em fevereiro de 1934, realiza o projeto e a decoração do baile “Uma expedição às matas virgens de Spamolândia”, à Rua Martinho Prado, São Paulo. Em março, exposição individual na Casa d’Arte Bragaglia, Roma. Em maio, exposição individual na Galeria Il Milione, Milão. Extingue-se a Spam por pressões de um grupo simpatizante do integralismo, que repudiava os judeus como “inimigos do Estado”, em 1935. Três pinturas e sete gravuras suas são incluídas na mostra Entartete Kunst Ausstellungsführer (Exposição de Arte Degenerada), organizada pelos nazistas em Munique para desqualificar a Arte Moderna em 1937. Em maio, expõe no Primeiro Salão de Maio, no Esplanada Hotel, São Paulo. Representa oficialmente o Brasil no Congresso Internacional de Artistas Independentes, em Paris. Em fevereiro de 1938, exposição individual de pinturas e guaches na Galeria Renou et Colle, Paris. O Museu Jeu de Paume, atual Museu Nacional de Arte Moderna, em Paris, adquire sua pintura Retrato de Lucy VI (1936), e o Museu de Arte de Grenoble sua pintura Jovem com Acordeão II(1937). Em maio, expõe no Segundo Salão de Maio, no Esplanada Hotel, São Paulo. Realiza cenários para o balé “Sonhos de uma noite de verão”, encenado pela Companhia de Balé de Chinita Ullman, no Teatro Municipal de São Paulo. É publicado em Paris o livro Lasar Segall, do crítico Paul Fierens (Editions des Chroniques du Jour, Paris). Ruy Santos produz o filme O artista e a paisagem, sobre a obra de Lasar Segall em 1942. Exposição retrospectiva no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Catálogo com texto de Mário de Andrade (maio/junho) de 1943. É publicado o álbum Mangue (4 gravuras originais e 42 reproduções de desenhos), com textos de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Manuel Bandeira (Ed. Revista Acadêmica, Rio de Janeiro), focalizando o tema da prostituição dessa região do Rio de Janeiro.
Participa da Exposição de Arte Condenada pelo III Reich, na Galeria Askanazy, Rio de Janeiro.
Ilustrações para Poesias reunidas O. Andrade, de Oswald de Andrade (Edições Gaveta, São Paulo). Ilustrações para Canção da Partida, de Jacinta Passos (Edições Gaveta, São Paulo). Em novembro, é encenada a peça Dos Groisse Guevins (A Sorte Grande) de Sholem Aleichem, pelo Grupo de Teatro da Biblioteca Scholem Aleichem, com cenários de Segall, no Teatro Ginástico, Rio de Janeiro. Em março de 1948, exposição individual na Associated American Artists Galleries, Nova York. George Grosz, morando em Nova York, visita a exposição e deixa bilhete elogiando a grande tela Navio de emigrantes. Sua pintura Êxodo I (1947) é doada ao Museu Judaico de Nova York. Em outubro de 1951, exposição retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo.
Conhece Myra Perlov, modelo de uma série de retratos. Sala Especial na I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (outubro/dezembro). É publicado o livro Lasar Segall, de Pietro Maria Bardi (Ed. Museu de Arte de São Paulo) em 1952. Participa do Instituto de Arte Contemporânea, do MASP, como consultor do curso de artes plásticas. Em 1954, realiza cenários e figurinos para o balé O mandarim maravilhoso, encenado pela Companhia Ballet IV Centenário, São Paulo, com música de Bela Bartok e coreografia de Aurélio Milloss. Retoma alguns de seus temas anteriores nas séries das Erradias, Favelas e Florestas, em composições com predominância de verticais e nas quais o assunto é cada vez mais rarefeito. Sala especial na III Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (julho/outubro) de 1955. Marcos Margulies produz o documentário A esperança é eterna, sobre a obra de Segall.
Em 1956, expõe na mostra 50 anos de Paisagem Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (fevereiro/março). O crítico Jean Cassou, conservador chefe do Museu Nacional de Arte Moderna de Paris, inicia os preparativos para uma grande retrospectiva de Segall, que só se realizaria em 1959, após a morte do artista. Em 2 de agosto de 1957, ele falece em sua casa da Rua Afonso Celso em São Paulo, vítima de moléstia cardíaca. Em 1967, Jenny Klabin Segall, viúva do artista, inicia o trabalho de autenticação de obras não assinadas, ao mesmo tempo em que cuida da conservação das obras deixadas pelo artista, com vistas à criação de um museu. Auxiliada pelos filhos Mauricio Segall e Oscar Klabin Segall e pelo amigo Luis Hossaka, coordena várias exposições póstumas de Segall na Europa e em Israel, entre 1958 e 1962, cumprindo seu objetivo de reintroduzir seu nome no panorama artístico internacional. A 2 de agosto de 1967, exatamente dez anos após a morte do marido, Jenny Klabin Segall falece também em conseqüência de um enfarte. Pouco tempo depois, a 21 de setembro de 1967 é inaugurado oficialmente o Museu Lasar Segall, situado na antiga residência do casal.

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